Foram entregues, há uma semana atrás, os prémios da Sociedade Portuguesa de Autores. Num ano em que Marco Mendes publicou o seu Diário Rasgado, Carlos Pinheiro e Nuno Sousa publicaram Sobrevida (as minhas desculpas a outras possíveis escolhas), a banda desenhada foi olimpicamente ignorada nos ditos. Concluindo: para a SPA os autores de banda desenhada não são autores.
3 comments:
Das noves artes a banda desenhada é a única que não tem a possibilidade de ser premiada, e até a produção televisiva teve direito a três prémios… ainda há um longo caminho a percorrer…
Sem dúvida. O que mais se aproximou da banda desenhada foi o livro ilustrado. Se há quem possa afirmar, com razão, aliás, que a banda desenhada tem um estatuto menor na sociedade porque se dirigiu, tradicionalmente, às crianças e jovens repetindo fórmulas e formas estereotipadas, não pode ser por aí que a SPA a despreza já que o mesmo aconteceu ao livro ilustrado (descontando o livro de artista, claro, mas não foi essa a categoria premiada). Decididamente tem de haver algo mais que não vislumbro: falta de um lobby minimamente influente? Invisibilidade mediática? Extinção eminente?...
Sempre se associou o reconhecimento da BD como arte com a sua maioridade alcançada, grosso modo, nos anos 60 com o aparecimento dos comics underground nos EUA e com a criação de diversas heroínas sexualmente e politicamente emancipadas em França.
Então mesmo que, por uma remota e inverosímil hipótese, a BD permanecesse essencialmente só direccionada ao público infanto-juvenil, era por isso que se compreendia ter um estatuto menor na sociedade? Só a produção criativa dirigida ao público adulto é que pode alcançar um estatuto maior?
Como em tudo não existe só uma solução para esta questão mas uma das soluções passa seguramente pela edição de revistas de BD portuguesas mas com uma nova atitude editorial que associe a BD às outras artes e que a integre com outras áreas do conhecimento, com bons textos, design apelativo (aqui em Portugal estamos muito mal nesta área, veja-se a maioria das horríveis capas nas montras das livrarias) mas com, e ponto fulcral, valores de produção baratos, deixando em definitivo de querer aproximar o formato revista ao formato álbum.
Ou então um lobby minimamente influente, sim. Neste país à beira mar enterrado iria com certeza resultar.
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