Tuesday, April 15, 2025

O Programa Segue Dentro De Momentos...

David Soares (e) e Pedro Nora (d), Mr. Burroughs, Novembro de 2000

Os que são da minha idade, ou próximo disso, lembram-se, com certeza, de um intertítulo quando, algo de impensável, com os meios técnicos de hoje, alguma coisa corria mal nas transmissões do canal de televisão único, a RTP: "Pedimos Desculpa Por Esta Interrupção / O Programa Segue Dentro de Momentos".  Com a frase no subsconsciente, ou mesmo no consciente, já não me lembro, terminei um texto que se supunha ser sobre Mr. Burroughs, mas que, na realidade, foi sobre o desenhador, Pedro Nora, publicado no catálogo do Salão Lisboa 2000 com a frase: "O programa segue dentro de momentos, certamente..." Também começava o texto referido com o wishful thinking de que a margem se ia deslocar para o centro, centro esse que, aliás, punha em dúvida que existisse em Portugal...

Pois bem, o programa não seguiu coisa nenhuma e a margem continua onde sempre esteve.

Bastaram as chegadas de dois presidentes da câmara do PSD em Lisboa e Porto para que a periclitante situação de bonança, porque talento havia, e muito, se esfumasse num ápice. Refiro-me ao engenheiro, note-se, Carmona Rodrigues a Sul e ao economista, note-se, Rui Rio a Norte, ambos no fatídico ano de 2005. 

Desses tempos guardo ainda duas pet peeves contra outras tantas figuras conotadas com o PSD: Vasco Graça Moura e José Pedro Vasconcelos. Sendo de direita e subscritores da ideologia neoliberal, eram ambos contra o que chamavam a subsidiodepêndencia. Não tenho maneira de saber ao certo, mas sempre me pareceu que Vasconcelos tinha uma certa aversão ao que se convencionou chamar, tanto no Brasil como em Portugal, Cinema Novo. Não sei se pelas obras em si ou se pelas tricas lisboetas que, num meio tão pequeno, é inevitável que existam. Para Vasconcelos o Estado não tinha nada que se imiscuir em assuntos de cultura e, muito menos, favorecer estes em detrimento daqueles, etc... A crítica está longe de ser descabida, mas coloca um problema: como diria Lénine, então, que fazer?...

A resposta de Vasconcelos veio-lhe do outro lado do Atlântico, de Frank Capra: Hollywood em vez de cinema experimental, comercialismo de qualidade, achava ele, em vez de elitismo...

Se acho que a atribuição de subsídios tem realmente os seus problemas, mas é a única maneira de uma arte digna desse nome existir e, sem ela, entrámos na barbárie em que estamos, as ideias defendidas por Graça Moura ainda me parecem mais estapafúrdias: a Educação vai criar públicos preparados para consumir a qualidade e rejeitar o que é medíocre. Vê-se! Foi assim que o cinema em sala se infantilizou e morreu a morte de Benjamin Button. Ainda por cima, foi a banda desenhada que o matou!... Digo...

Tuesday, January 28, 2025

 

Héctor Germán Oesterheld (e), Hugo Pratt (d), Andrés Martin (l), "lobo Conrad", Hora Cero Suplemento Semanal #22 (29 de Janeiro de 1958)

João Ramalho Santos escreveu no último Jornal de Letras uma crítica a três livros de banda desenhada entre os quais se encontra Jesuit Joe e outras histórias. Tudo muito bem, mas foi pena ter-se esquecido de que Jesuit Joe foi muito "inspirado" em "lobo Conrad". Mesmo além-túmulo, Ugo Prat continua a beneficiar da ignorância de toda a gente, fruto de que todo este material continua à espera de ser reeditado. Ou não? Acho que, em Itália, e em edição de grande tiragem, se publicou Tutto Pratt. "lupo Conrad" está no nº 18, aposto que colorido, não sei se com as palavras intactas e, portanto, completamente adulterado.

Friday, October 11, 2024

Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa



Raul Correia (texto) e Eduardo Teixeira Coelho (desenhos), "A Lei Da Selva", O Mosquito #104, 21 de Fevereiro de 1948

Leram bem! Repito: Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa! Sim, porque a nossa Assembleia da República agora aprova redundâncias. A não ser que isto sirva para distinguir, num espírito de ecumenísmo notável, o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa de um putativo Dia Nacional da Banda Desenhada Espanhola ou algo do género...

Seja como for, ele aí está:


E o que é que aconteceu de tão importante para a banda desenhada portuguesa no dia 18 de Outubro para assim, e para todo o sempre, comemorarmos tal data?
Aparentemente, absolutamente nada! Ou seja, a Academia Nacional de Belas Artes, vetusta instituição que, durante os seis anos em que frequentei o mesmo edifício que a dita, quase que foi apenas uma porta pomposa ao fundo do corredor (não vem ao caso, mas o "quase" vai para um livrito que lá fui buscar sobre os azulejos da Quinta da Bacalhoa), a dita Academia, dizia, reconheceu a banda desenhada como arte legítima. Ou seja, e repito, no dia 18 de Outubro, não aconteceu absolutamente nada de relevante para a banda desenhada portuguesa. 

Por mim, escolhia o dia 21 de Fevereiro, dia da publicação, na revista O Mosquito, da primeira prancha de "A Lei da Selva" por Raul Correia, Eduardo Teixeira Coelho e, calculo, José Ruy na cor.

Friday, September 13, 2024

Thursday, September 12, 2024

New York Comics & Picture-Story Symposium - Coda

 


My participation in the New York Comics & Picture-Story Symposium can be watched, here.

Two corrections: Martin Vaughn-James is not Canadian. The Cage was published in Canada, but he was from the UK; Charlotte Salomon's book is Life! Or Theater?.