Monday, August 24, 2020

A Problem With The Comments On This Blog

Dear Readers: I have to interrupt my new series on pivotal moments in my comics reading story (In Portuguese, helas, but that's what made sense to me) to write the following apologizing note: Since the beginning of The Crib Sheet that I received emails warning me about comments needing moderation, but at some point the emails stopped. To tell you the truth I didn't give it too much thought until today, after receiving an emai from one of you. I went to the comments moderation page and lo´ and behold, I had many comments waiting moderation there! After deleting spam, double comments and a comment calling me names and threatening me (nothing new, fanatics will be fanatics) I still have a couple dozen comments or so there. If you are among those who wrote these comments, please accept my sincerest apologies!

Sunday, August 9, 2020

Momentos Marcantes na Vida de Um Leitor de Banda Desenhada - 1 - Os Sobrinhos do Capitão e o jornal O Século


Sobrinhos do Capitão!, 1964

Decidi ressuscitar este blogue por um tempo (in Portuguese, sorry, folks!) para escrever uma série de entradas sobre os vários momentos que me marcaram como leitor de banda desenhada. É um percurso sinuoso e cheio de encruzilhadas, o qual, como é óbvio, partiu de um lugar muito diferente daquele onde chegou. Se dividisse estes textos em lustros (mas não o vou fazer), este corresponderia ao meu primeiro de vida.

Não prometo, no entanto, grande veracidade no que se segue. Nenhuma madalena de Proust virá em meu auxílio embora, em vez da dita, algumas vinhetas, à maneira das vinhetas memoráveis da, apesar de tudo, memorável revista les Cahiers de la Bande Dessinée, também possam fazer por aqui a sua aparição fantasmática. 

Toda a ficção é autobiografia e toda a autobiografia é ficção. Quanto mais não seja porque as memórias são sempre memórias falsas. Nunca aconteceu assim ou nunca aconteceu bem assim...


O que me lembro é de ter um problema de saúde potencialmente muito grave que, segundo a pediatra, me poderia colocar numa cadeira de rodas para o resto da vida. Tinha falta de apetite e, como o meu pai era leitor assíduo do defunto jornal O Século, bastava ele pôr-me o suplemento "Pim Pam Pum" debaixo dos olhos para eu me perder nos mundos impressos, tão mais interessantes do que os outros. Era assim que me distraía enquanto me ía alimentando. 

Tivesse este fait-divers pessoal acontecido só que fosse uma geração depois e os meios de imersão estariam, de certeza, ligados à corrente eléctrica. Mas, naquele início de década de 1960, o século XX tinha a idade que eu tenho agora e a magia era trazida por pontinhos de cor e manchas de preto sobre papel barato de jornal. Fazendo psicanálise tão barata como o tal papel diria que é dessas origens longínquas que me vem o fetichismo pelos pontinhos Ben Day e pelas cores pastel a contrastar com cores primárias sobre papel bege. Idem pelos registos desalinhados e demais erros. Neste tempo de reimpressões, em que se tenta recuperar e preservar o efémero, não aceito que se "melhore" seja o que for, salvo raras excepções, porque isso é falsear o que foi.



Os Silvas ou The Gambols, 1963

No jornal O Século também me interessava a banda desenhada que era publicada durante a semana. Lembro-me apenas de "Os Silvas" que, obviamente, na altura não sabia tratar-se da comédia pequeno burguesa "The Gambols" por Barry Appleby e de "Luís, o Traquinas", série igualmente pequeno burguesa e suburbana, que também não sabia tratar-se de "Dennis, the Menace" de Hank Ketcham. Recortava essas vinhetas com todo o cuidado o que muito me ajudou a desenvolver a motricidade fina. Nada disto resta em meu poder, por isso, o recorte abaixo foi recolhido na Internet. De notar, apenas como curiosidade histórica: era a censura que obrigava a aportuguesar os nomes originais.

Dennis the Menace, Hank Ketcham

Nesta visita às origens há um episódio que não asseguro por nada ter acontecido, mas o meu cérebro jura que sim, por isso, aqui vai ele: 
Teria uns quatro ou cinco anos e estava na rua a acompanhar o meu pai enquanto olhava para um livro de banda desenhada (penso que seria um livro dos Sobrinhos do Capitão -The Katzenjammer Kids). É então que um transeunte me interpela e me pergunta se sabia ler. Suponho que a resposta terá sido negativa seguida de "...mas vejo os bonecos". Quase seis décadas depois, embora com igual gosto pelas palavras, é exactamente isso que continuo a fazer.