Raul Correia (texto) e Eduardo Teixeira Coelho (desenhos), "A Lei Da Selva", O Mosquito #104, 21 de Fevereiro de 1948
Leram bem! Repito: Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa! Sim, porque a nossa Assembleia da República agora aprova redundâncias. A não ser que isto sirva para distinguir, num espírito de ecumenísmo notável, o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa de um putativo Dia Nacional da Banda Desenhada Espanhola ou algo do género...
Seja como for, ele aí está:
E o que é que aconteceu de tão importante para a banda desenhada portuguesa no dia 18 de Outubro para assim, e para todo o sempre, comemorarmos tal data?
Aparentemente, absolutamente nada! Ou seja, a Academia Nacional de Belas Artes, vetusta instituição que, durante os seis anos em que frequentei o mesmo edifício que a dita, quase que foi apenas uma porta pomposa ao fundo do corredor (não vem ao caso, mas o "quase" vai para um livrito que lá fui buscar sobre os azulejos da Quinta da Bacalhoa), a dita Academia, dizia, reconheceu a banda desenhada como arte legítima. Ou seja, e repito, no dia 18 de Outubro, não aconteceu absolutamente nada de relevante para a banda desenhada portuguesa.
Por mim, escolhia o dia 21 de Fevereiro, dia da publicação, na revista O Mosquito, da primeira prancha de "A Lei da Selva" por Raul Correia, Eduardo Teixeira Coelho e, calculo, José Ruy na cor.
raio de escolha a tua, se há obras a serem comemoradas seriam No Lazareto do Bordalo ou Ecos da semana do Botelho...
ReplyDeletede resto, o que se assiste aqui é um broche da Academia à BD Amadora... pelo que ouvi dizer este dia foi proposto pelo Livre, o partido na qual teve cartazes seus ilustrados pela Amanda Baeza, grande artista gráfica mas que não é portuguesa suficiente para celebrar o 25 de Abril patrocinado pela Amadora - vide artigo Pedro Moura no Bandas Desenhadas.
Enfim, uma selva sem lei, se calhar até tens razão no dia que estás a propor.
Ambas as escolhas perfeitamente válidas e respeitáveis, se calhar, até, com mais lógica do que a minha, naturalmente. Outra alternativa seria o dia da primeira publicação do "Quim e Manecas", o que dava um mês antes, a 21 de Janeiro. "A Lei da Selva" é um fraquinho meu, mas não abdico.
ReplyDeleteNão gosto a BD do Stuart, infelizmente... acho muito inconsequente e infantil...
ReplyDeleteSó tem interesse formal, pela modernidade numa Europa que teimava nos textos por baixo dos desenhos. Para dizer a verdade, não tenho nada contra os supostos retrógrados europeus, em contraste com os gringos todos modernaços. Para mim, todas as formas são válidas e, por isso, não seria a minha escolha. Mas, essa, apesar de uma certa ideologia do Estado Novo que lhe descobri, como sabes, já a disse...
ReplyDeleteJá agora acrescento o seguinte: quando uma forma hegemónica se impõe, distorce a visão que se tem do fenómeno, seja este qual for. A partir do momento em que a fórmula norte-americana se impôs, tomou-se imediatamente a nuvem por Juno. A partir desse momento, qualquer texto que fosse além de monosílabos, ou pouco mais, era anátema. Criou-se um movimento logofóbico que só empobrece uma das ferramentas que o artísta de banda desenhada tem à disposição, mas que, infelizmente, poucas vezes sabe usar. A banda desenhada tem de ser proteica, dizer o contrário é essencialista e redutor. Além do mais, quem é que tem o poder ditatorial para dizer, "isto é" ou "isto não é"? Raul Correia, por exemplo, era um poeta habilidoso, mas, infelizmente, pós-romântico e sentimental. Como prosador, talvez porque o seu grande mestre era Eça de Queirós, era muito melhor e este é um dos aspectos que me agradam em "A Lei da Selva".
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